quinta-feira

Falemos de mim, então.
Desta fuga estratégica à dor do semelhante.
O meu saco de lixo enche-se destes episódios, enfuna-se como uma vela ao vento e quando remexo são só coisas pequeninas que tanto me martirizaram e me sujam até aos cotovelos do tal sangue das memórias.
Fala-me de máscaras, de protecções, de resguardos de boca.
Não lhe respondo, hoje não lhe vou dar saída, não merece, não mudou a cor das paredes, vai ter que se virar do avesso para merecer os euros que lhe engordam a conta bancária.
Prossegue monocórdico, diz-me que quer fazer um jogo (este gajo precisa de tratamento!), mantenho-me muda, ouço-o mas não me apetece dar-lhe sinal que o entendo.
Silêncio.
(Vamos ver quem aguenta mais tempo).
(Deste jogo gosto).
- Dor.
(Eheheh... foi-se abaixo)
- Joelho.
- Partida.
- Combóio.
- Saudade.
- Maria da Saudade Lemos, a minha empregada lá de casa.
- Fuga.
- Impostos.
- Morte.
- Qual é o objectivo disto tudo? Não estou a ver...
- Associações. Por meio de associações chegamos a pontos-chave.
(Sorri para mim).
- Continuo sem perceber.
- À palavra morte não respondeu. O seu silêncio é já uma resposta.
- Ai, sim? E qual é?
- Não quer responder?
- Não.
Não falemos de mim, então.
O saco de lixo é meu, sou eu que carrego o peso, ninguém tem nada que meter o bedelho ou vir aqui despejar seja o que for.

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