segunda-feira

É disto que eu gosto, desta correría, destes imprevistos e derrapagens, gente a entrar e saír, o som do telefone, reuniões.
Parece que não fiz mesmo falta alguma, tudo sob controle, o Magalhães saiu-se bem mais uma vez.
- Como correram as férias?
- Bem, correram, férias sabe como é.
- Espero que venha retemperada. Isto por aqui não abrandou. Temos mais um potencial cliente...
- Óptimo! Isso é que são boas noticias! Precisamos de trabalho! Todos, não é assim?
- Claro, Edna! E este parece ser um bom cliente.
- Todos são bons clientes desde que o sejam nossos. Os que se vão são maus clientes.
- Vejo que vem cheia de ânimo, as férias fizeram-lhe bem.
- Não foram as férias Magalhães, eu gosto do que faço. Vamos lá ao que interessa.
- Bom, quanto ao projecto do coreano...
- Ouça, não vi o Daniel...
- O Daniel pediu para entrar de férias...
- Mas ele não tinha férias marcadas para Agosto?
- Sim, mas veio falar comigo e disse que precisava agora de uns dias. Não vi que houvesse problema nessa antecipação.
- Por causa da Paula, com toda a certeza. Ela também foi de férias não é?
- Sim, mas...
- E afinal qual é o ponto de situação desses dois? Não vou tolerar mais baixas de rendimento.
- Acho que vão mesmo adiante, se quer saber...
- Adiante? Adiante como?
- O Daniel já se separou da mulher, está a viver com ela.
- O quê?!
- É isso mesmo Edna. Não é um simples affaire, é mesmo sério.
- Significa isso que terei de despedir os dois?
- Não entendo... Desculpe mas não vejo que relação tem a empresa com a vida privada deles... nem vejo que justificação vai arranjar para os despedir.
Naquele momento odiei que ele tivesse razão. Odiei que ela tivesse tido razão para confiar no Daniel e odiei o Daniel por cumprir a sua palavra ao separar-se da mulher. Odiei que fosse mesmo uma relação séria.

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