segunda-feira

- Feche a porta Magalhães. Não quero ser interrompida.
- Algum problema?
- Sim, algum problema. O problema da orquídea.
- Não estou a segui-la...
- A orquídea, Magalhães. Você é um homem inteligente. Não me faça perder tempo com mais explicações.
- Ah! A orquídea que eu lhe ofereci!
- Isso.
- Parece que não gostou...
- Nem um bocadinho.
- Não gosta de orquídeas, é isso? Como são flores diferentes achei que gostaría...
- Pare lá com isso. Sabe perfeitamente qual é o problema de eu não ter gostado.
- Se quer saber, não sei mesmo.
- Nem adivinha?
- Não, não adivinho. Mas adivinho que a Edna mo vai dizer.
- Magalhães: eu não estou interessada na sua amizade, no seu companheirismo, no seu ombro, na sua compreensão e tão pouco no seu pirilau.
- Desculpe?!
- É isso mesmo que ouviu.
- Mas...
- Ainda não terminei. O que eu quero dizer, e muito sinceramente tinha-o noutra conta, é que apenas pretendo que você seja um óptimo profissional.
- Tem razões de queixa?
- Até aqui não. Mas se persistir em atitudes de aproximação para além dos interesses da Empresa terei que tomar uma atitude.
- Isso é uma ameça?
- Não, não é. É um aviso.
- Tanto barulho por causa de uma orquídea...
- Você sabe perfeitamente que o problema não é a merda da flor! É o gesto que você pretende que aquela porcaria tenha! Parece que não me conhece?! Acha que algum dia eu podería deitar-me consigo?!
- Espere lá, Edna! Está a ir por caminhos obscuros! Quem lhe disse a si que eu quería deitar-me consigo? Ou pensa que encanta todos e eu sou mais um?
- Não?! Então para que foi aquilo? Não foi o principio do que você tem em mente já há algum tempo? Comer-me?
- Você está doida, Edna! E a precisar de tratamento urgente!
- Tratamento? Que é que quer dizer com isso?
- Isso mesmo! Tentei aproximar-me de si porque dá pena ver a mulher lindissima que é e não ter ninguém! E não falo de homens! Falo de amigos, gente que a ouça!
- Está aos gritos Magalhães! Daqui a pouco vai trazer-me o saco de lixo e tentar arrancar-me os braços, eu sei!
- O quê?
- É isso mesmo!
- Doida! Doida varrida! Que saco do lixo? Não estou para aturar isto! Era o que mais faltava!
- Muito bem! Então só há uma coisa a fazer!
- Há pois há! Mas não pense que lhe dou essa satisfação! Demito-me! Ou pensava que me despedía?!

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