- Posso?
- Entre Magalhães. Preciso mesmo de falar consigo sobre a reunião de amanhã.
- Olhe.
Eu olho. Nas mãos do meu chefe de equipa uma pequena embalagem transparente, um laço enorme a negro.
- O que é isso?
- Hoje sou eu que lhe trago o presente do seu admirador secreto.
- Deixe-se disso, sabe bem como me irritam esse tipo de coisas!
- OK, tudo bem. Tome.
Avança com a pequena caixa até à altura do meus olhos. Eu olho-a. Está de mão estendida com a caixa, sinto que me observa a tentar descobrir o que vai na minha cabeça, aguarda que eu estenda as mãos para segurá-la.
- Pode deixar aí...
- Não vai abrir?
- Abrir? Para quê? Já vi o que é. Uma orquídea.
- É uma orquídea sim! Mas traz um cartão lá dentro...
- Está bem, mas agora não! Deixe aí que quando tiver tempo logo vejo.
Ouço-o a prender a respiração, segura as palavras num modo contido.
- Como queira!
Pousa a caixa e afasta-se em direcção à porta.
- Magalhães! Onde vai?
- Trabalhar! Tenho um monte de coisas na minha mesa.
- Que esperem! Temos de falar, eu não lhe disse?!
- Depois Edna! Depois! Agora não tenho tempo!
- Como?
Deixa-me a falar sózinha, abre a porta, sai e bate com a porta.
Mas que coisa?!
Donde saíu este agora?! Mas o que é que se passa? Esta fita toda por causa de uma porcaria de uma orquídea?!
Deixa lá ver... O cartão, é verdade.
Abro a caixa transparente: Uma orquídea branca raiada a ameixa exibe o seu esplendor, quase parece de carne, quase parece artificial. É linda. Traz umas gotículas no seu interior, lembra-me um sexo de mulher. Cheiro-a embora saiba que as orquídeas não têm aroma. Por baixo um cartão pequenino dobrado ao meio. Abro-o.
"Porque não me deixa ajudá-la? Antes que murche como esta flor há-de murchar".
Vem assinado. João Magalhães.
Não quería nada que isto estivesse a acontecer...
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