Como ainda tremo bastante o Magalhães lá me convenceu que sería preferível aguardar mais algum tempo antes de eu poder conduzir sem perigos de maior. Isto porque apesar de ser Sábado, quero ir ao escritório, quero ver como está tudo, preparar a minha mesa para na Segunda ocupar o que é meu. Já chega de afastamento.
Ele vem buscar-me.
Não sei explicar bem porquê mas sinto-me nervosa.
Tenho as mãos a transpirar, coisa que nunca me aconteceu na vida. Já troquei de roupa três vezes e parece que nada me assenta nem é apropriado para um local de trabalho. Mas ao sábado.
A verdade é que estou mesmo muito magra e parece que as roupas vão deslizar por mim abaixo a qualquer momento. Perdi o rabo e o peito, os ossos aparecem bicudos nas dedos, nos ombros, nos joelhos e nos pulsos. Estou sem gracinha nenhuma. Se estivesse no activo não havería homem algum que me quisesse. Mas até o apetite por sexo desapareceu. A única vez que me masturbei desde esta cena toda não consegui chegar ao orgasmo, e acabei pior do que se não o tivesse tentado.
Agora só quero que o Magalhães chegue e me mostre os documentos da empresa.
Depois há-de levar-me até ao meu carro. Quero o meu carro na minha garagem de casa, perto de mim, disponível para a minha vontade, deixar de estar dependente de boleias e do meu Chefe de Equipa.
O Magalhães... outro problema. Não sei o que hei-de fazer daqui para a frente, como proceder com ele. Tem sido o que nunca ninguém foi comigo. Mas não quero um amigo a trabalhar comigo, um homem que sabe de segredos meus, que já me viu virada do avesso, descabelada e cheia de pelos nas pernas... um homem que não devería ter sido ele.
Devería ter sido aquele. O que não teve coragem para me ver deformada de tanto que o amo.
Ou amei?
Agora, neste instante, não sei...
Não sei o que sinto por ele, talvez saudades, vem-me à lembrança cenas que parecem saídas de um filme em que nós dois fomos os únicos actores e assim, os únicos protagonistas. Mas não deixa de ser um filme, nada de real, concreto, palpável, actual, presente quando precisei dele ao meu lado.
Quem esteve sempre ao meu lado foi o Magalhães e eu não o amo.
Nem quero misturar amor com gratidão.
Por isso, Magalhães... O que é que eu faço consigo?
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