quinta-feira

Pronto, falemos de mim então. Ou calo-me, hoje não me apetece falar só ficar quieta e enrolada no sofá enquanto ele abana a perna traçada e (finge) que toma apontamentos sobre a minha personalidade torcida.
Felizmente que nunca me pediu para eu me deitar. Acho que para além de amarrotar a roupa acabaría por adormecer sob a sua voz monocórdica que tenta soar sexy e perder-me-ía na cor do tecto que acho de um mau gosto a toda a prova. Verde-água. Como é possível alguém pintar um tecto e as paredes desta cor.
Relaxante, não é? Uma saloiada, isso sim. Mas calo-me, não lhe quero dar de barato conclusões que vai ter de se espremer por as ganhar assim como o meu dinheiro.
As meias que traz são de fibra sintética, brilham demasiado para serem de algodão do Egipto. Olha para as minhas pernas dobradas, os pés sob o rabo, as coxas sobressaídas sob a saia preta justa, o salto fino e aguçado prestes a romper o estofado minúsculo a verde garrafa e preto.
Vejo a cena da Stone à minha frente: ele sem calças e sem cuecas, a fralda da camisa a compôr-lhe curta os esmeros. Desfaz o movimento de pernas e traça para o outro lado, entrevejo-lhe o sexo escuro.
Desato a rir.
- Hoje estamos bem dispostos, vejo...
(Não percebe nada).
É mesmo fácil enganar estes tipos.

Sem comentários: