quarta-feira

Preciso dos meus solitários momentos em que me reservo para fazer toda a espécie de disparates. São bocados meus e não permito que haja partilha com ninguém. Talvez porque muitos deles denunciem algumas tendências esquizofrénicas que de dia tapo e até escondo e esqueço.
Uma vez por mês fujo de mim e procuro-me. De loucos, não é?
Tenho programas que planeei ou então deixo ao acaso do destino o que ele me quiser oferecer.
Mas há um de que gosto particularmente que é disfarçar-me de homem e entrar nos lavabos masculinos. Até tenho um bigode postiço e tudo. Não faço nada, limito-me a ouvi-los, um tossicar quando urinam e eu entro, nervoso, talvez receiem a aproximação e o olhar furtivo sobre o tamanho. Muitos não lavam as mãos depois do serviço. Parece que se guardam no cheiro largado como o búfalo a marcar território sobre os adversários.
Quando regresso a casa e arranco o bigode venho sempre diferente. Não sei explicar. É como entrar no mundo de Alice, não se compara a ver o parceiro que esteve connosco e vai à nossa casa-de-banho lavar-se, lá a intimidade não existe e pode-se assistir sem pudores aos tiques; cá ele tenta manter o código de perfeição que tentou embeber nas horas juntos, não vai cuspir nem correr o risco de olhar as unhas dos pés a precisarem de serem cortadas.
Não sei de que me servem estes pedaços que procuro, mas preciso deles, de mim neles para pacificar a minha condição de mulher.

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