quinta-feira

- Como te sentes?
- Bem... porque perguntas?
- Por nada... então achas que as sessões estão a ter resultado?
- O que é que essa pergunta significa?
- Nada, nada!
- Se nada, porque perguntas?
- Porque me preocupo contigo! É normal, não achas?
- Não tens que te preocupar. E não respondeste: porque falaste das sessões?
- Porque estás sempre na defensiva?
- Mais uma pergunta...
- Lá estás tu!
- Esta conversa é uma repetição das de sempre. Vou-me embora.
- Vai, volta as costas, não enfrentes a verdade!
- Qual é a verdade Mãe? A tua?
- É por isso que estás sózinha! Ninguém aguenta! Até eu que sou tua Mãe me é dificil compreender-te quanto mais alguém que não é do teu sangue!
- Tudo isto é inútil. Adeus.
Dantes batía com a porta à saída, agora fecho-a devagar, é tudo do mesmo, a conversa repetida, sei-lhe as frases de cor e salteado. Ela não sabe de nada. Desde a infância que não sabe nada de mim, achava-me uma criança dificil, agora uma mulher com problemas como ela diz, "a minha filha é uma mulher com problemas".
Não, não sou. Os problemas surgem e eu resolvo-os. Eficazmente. De raíz. Não sobra ponta por onde voltar a atear. E os que não têm solução estão resolvidos nessa mesma falta. Não me perturbam nem disponho da minha energia a analisá-los.
Mas a grande questão da minha Mãe não são os "meus" problemas, "é" o problema que ela tem; ou melhor não tem: Não tem uma filha casada que lhe tenha dado netos.
E este eu nunca "lhe" vou poder resolver.

Sem comentários: