Não traça a perna, não está confortável, apercebo-me que hoje quer entrar por caminhos que só aflorou, que deve conduzir a conversa com cautela ou espanta a caça. Ou seja, eu.
Ainda não percebeu que só terá o que eu lhe quiser dar e não serão joguinhos de psicanálise que lhe permitirão concluír seja o que for.
Diverte-me vê-lo apreensivo. Bem que podía trocar aquelas peúgas sintéticas horríveis e de elástico frouxo que deixam a canela peluda à vista...
- Se lhe fosse dada a capacidade de escolher o sexo tería escolhido nascer mulher?
- Claro.
- Mulher... homem, não?
- Não.
- E como encara as outras mulheres?
- Bem. Depende do tipo de relação que tenha com elas.
- Acha-se superior às outras mulheres?
- Não, sou diferente, muito diferente.
- E perante os homens?
- Que é que tem?
- Acha-se superior?
- Não. A situação é a mesma para com as mulheres e os homens.
- Essa diferença de que fala... incomoda-a se eu a referir como insatisfação?
- De modo algum.
- É essa insatisfação que a faz mencionar o género feminino tão depreciativamente?
- Não vejo como. A maioria das mulheres contenta-se com tão pouco... mas a escolha é delas.
- Essa necessidade de busca em vários parceiros...
- Um de cada vez.
- Sim, mas vários parceiros, uma procura para a satisfazer...
- Os que escolho satisfazem-me, fazem-me vir.
(Tosse, uma tosse pequenina)
- Acha que a sua diferença se marca pela provocação?
- Que tolice! Claro que não!
- Vejo que a perturba eu falar-lhe nesta questão.
- Eu fico perturbada com a cor das suas paredes, do tecto.
- Desculpe?
- Acho que aquilo que lhe pago por hora dá bem para contratar um pintor. E surpreenda-me: caril.
- Desculpe?
- Mais pistas e vai ter que me pagar.
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