domingo

Tenho uma banheira XXL. Enquanto não a arranjei não sosseguei. Depois que a tive raramente a usei.
Mas hoje resolvi mergulhar nela, accionar o mecanismo de hidromassagem, borbulhar a água até a espuma começar a saír e caír no chão. Está-se bem. Tranquilo. Se me afundar totalmente deixo de ouvir os sons da vida. Os sons da água têm outra vida, acho que nunca tinha pensado nisso... deixei-me abandonar completamente, muito vapor, os espelhos que forram as paredes embaciados. Senti os braços e as pernas a subirem e a boiarem naturalmente, sem peso algum, tudo tão leve que parecía que tinha deixado de existir.
Veio-me à lembrança aquelas mulheres que se suicidam nas banheiras. Acho que hoje comecei a percebê-las melhor, todo este estado que parece não se estar, já um anúncio de ausência.
Observei os meus dedos dos pés a espreitarem por entre o azulado da espuma. Ficam com outra aparência os pés molhados. E os mamilos. Toquei-me, não para me excitar mas porque acho o meu corpo bonito e dá-me prazer olhá-lo e desta maneira tão diferente, entre a espuma, a água e as minhas próprias mãos adquire-se outra identidade.
Tudo tão leve, tão etéreo, quase perfeito.
Se cortasse os pulsos não me ía custar nada. Só a água passaría de azul a vermelho.
Acho que esta banheira é estranha. Demasiado grande para mim. Só para mim. Quando ele estava comigo tinha outra, muito mais pequena. Cabíamos os dois, entrelaçados nas pernas.

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