segunda-feira

Banho. Sózinha. De porta fechada. A poder finalmente ver o meu corpo. Sinto os ossos dos ombros, dos pulsos, das ancas. Pedi à minha Mãe uma gillette, preciso de me rapar, não consigo ver-me assim. Mas a minha Mãe assustou-se e arranjou uma série de desculpas para não me dar o que lhe pedi. Disse-lhe que não me ía matar. Desatou num pranto. Não gosto de ver ou ouvir chorar. Fico mal. Pedi-lhe que parasse que não me ía matar mas acho que ela não acredita.
Enfiei-me no banho, pena não haver espuma ou uns sais marinhos. É nestas alturas que sinto tanta falta das minhas coisas, da minha privacidade, da minha casa, da vida que eu tinha. Da vida que eu tinha antes ou depois dele?
Tentei lembrar-me dele, fantasiá-lo dentro desta banheira na casa de banho da casa da minha Mãe, uma transgressão ao rigor das rotinas do lar materno, tipo adolescente na marmelada com o namorado do liceu enquanto os pais estão fora. Afaguei-me. Acariciei-me, toquei com a ponta dos dedos nos mamilos, na curva das coxas, na palma da mão senti o meu clítoris deslizar, depois mais rápido, caminhei por ele, rondei-o, devassei-me.
Nada.

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