O Magalhães hoje não veio visitar-me. Aliás, ninguém. Só eu, este quarto e a minha Mãe e as suas constantes espreitadelas. Odeio que me vigie. A maior parte do tempo finjo que durmo para escapar a eventuais perguntas que começam invariavelmente sobre se quero um copo de leite ou mais uma almofada ou qualquer outra coisa desnecessária para mim.
Só quero ir-me embora.
Este quarto abafa-me, morde-me. Lembra-me tempos de revolta abafados entre as ordens da minha Mãe e a moderação do meu Pai.
O meu Pai... Que diría ele se estivesse vivo e aqui comigo? Será que me ajudaría a fugir deste sitio que me faz mal e me contraría e me remexe nas lembranças do passado como quem corta figados para aguentar o insustentável?
Eu não me esqueci do que a minha Mãe me fez. Ela é que me internou. Não esqueci e não lhe perdoo. Mas por agora ainda não tenho condição de travar essa batalha e afinal, vendo bem as coisas, estou no terreno do inimigo.
O Magalhães não veio, o meu pai não está vivo, o homem que amei desapareceu e eu mesma não sei em que ponto estou. Num ponto de saída sem duvida. E creio que de mim mesma.
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