Hoje pus o bigode, a minha peruca ridicula de homem calvo, até enriqueci a figura com um adereço de barriga proeminente, a camisa de xadrez e gravata, com o blusão de fato de treino.
Estou verdadeiramente ridiculo.
Um verdadeiro e comum homem.
Escondo as unhas de manicure francesa nos bolsos, agito trocos no sonante do gesto, coço as partes baixas que aumentei com um maço de algodão.
Misturei-me com as manadas que desfilam pelo centro comercial. Quase passo despercebido, não fora a peruca que a maioria das mulheres olham e riem à socapa. Respondo-lhes no silêncio da imitação de lhes atirar beijos, as mais novas e em grupo riem-se descaradamente, as outras desviam o olhar incomodadas e chamam-me estúpido.
Na casa de banho publica masculina observo-os a sacarem do membro, olham em frente enquanto urinam, depois contemplativos quando sacodem rápido e por duas vezes flectindo quase imperceptívelmente as pernas.
Só alguns lavam as mãos. Mas todos se olham ao espelho. Os que não lavam as mãos, cheiram-nas, talvez para terem a certeza da sua marca odorifera depois de se terem tocado no pénis. A seguir compõem o cabelo, mas acho que é para alargar o território e exalarem no chamamento da fêmea.
Imitei-os no acto de urinar, escolhi um com bom aspecto, fiquei a admirar-lhe o tamanho, a cor, a maneira como agarrou numa parte de si. Ele não gostou. Primeiro lançou-me um olhar furioso e depois ameaçou-me, chamou-me paneleiro. Não me contive e ri. Ficou uma fera. Agarrou-me pelos colarinhos e atirou-me contra a parede encostando a testa dele na minha.
Foi quando se apercebeu de qualquer coisa, os braços em riste sobre o meu peito, apalpou-os, senti a mão bruta a apertar-me, os mamilos a endurecerem.
Deu-me uma forte sacudidela e bateu-me de novo com as costas contra o azulejo. Chamou-me grande paneleiro e disse-me para lhe desaparecer da vista. Lavou as mãos energica e vigorosamente. Saiu num passo apressado.
Nem por um momento lhe passou que eu era mulher.
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