- Posso?
(Faço-lhe um gesto com a mão para que entre).
(Fechou a porta).
- Edna, estou preocupado consigo...
(Daí ter fechado a porta).
- Preocupado?
(Senta-se. Entrelaça os dedos de uma mão na outra. Olha para o tampo da minha mesa).
- Não quero que sinta que a invado de alguma forma...
(Agora olha-me nos olhos)
- Mas acho que não está bem. Nunca houve um só dia que não tivesse vindo aqui e ontem quando me telefonou, não gostei nada da sua voz.
- Eu estou óptima Magalhães.
- Se estivesse óptima tería vindo. Sei que isto é a sua vida.
- E é mesmo, não duvide.
- Deixa-me preocupado consigo... Sinto-a fragilizada, magoada com qualquer coisa...
- Não é nada disso! Deve ter sido uma daquelas viroses que chegam e que desaparecem tão rápido quanto nos deitam abaixo!
- E foi ao médico?
- Que disparate! Médico? Por causa de uma indisposição passageira?
- Não me parece que tenha sido passageira...
(Falou tão devagar que quase senti que me tirava a roupa com o olhar).
- Mas foi! Hoje estou como se nada tivesse acontecido.
- Edna, quero que saiba que estou aqui. Não quero meter-me na sua vida, longe de mim! Mas estou aqui, se eu puder ajudá-la...
- O que tem para me ajudar é fazer com que a gente não perca o novo cliente. Não só me ajuda como ajuda a empresa. E claro, todos os que dela dependem!
- Não é disso que falo...
(Pousou as duas mãos sobre a secretária, palmas à vista).
- É só disso que temos que falar, Magalhães. Não há mais nada.
- Como é teimosa! Desculpe-me a sinceridade! Teimosa!
(Não estava nada à espera disto!)
- Claro que sou! Acha que se gere uma empresa com brandos costumes?
- Lá está você! Nunca desarma! Nem mesmo quando lhe ofereço a minha amizade! Quando lhe demonstro que estou mesmo preocupado consigo!
- Empreste-me o seu saber. É dele que preciso para pôr a equipa a funcionar.
- Não pense que me engana!
(Mas o que é isto?)
- Magalhães, temos imensas coisas para fazer! Se não tem mais nada para me dizer...
- Teimosa!
- Vou fazer de conta que não ouvi.
- Isso! Despache-me! Dê uma de patroa! Fica-lhe bem!
- Quando saír feche a porta, por favor.
(Levantou-se. Bateu com a palma da mão nos papéis que estavam mesmo à minha frente).
- Eu vou. Mas não me deita abaixo com essa sua pose de dama de gelo!
(Agarrou-me a mão. Tem a mão quente, é macia. E forte).
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