quarta-feira

Falemos de mim.
De como disse que não voltava cá mais, mas os passos no seu hábito trouxeram-me de novo a esta sala que passou de verde-água a um creme vomitado com uma alcatifa também creme que já tem a minha marca de sangue na contrariedade de aqui estar. E que cá regresso.
Falemos de mim mas não falemos dos últimos acontecimentos e das revelações que se atiraram à minha cara como chapadas violentas que castigam mais por dentro do que as marcas vermelhas dos vergões deixados pelos dedos das mãos.
Falemos de tudo e não falemos de nada.
Evito-me, prefiro a estratégia dos monossílabos, a pose provocadora que ressalta as minhas coxas ou o debruçar-me sobre os meus joelhos à procura da resposta para dar a este pateta que se desliga por completo quando se atira ao meu decote e tenta adivinhar se trago ou não soutien. Deixo-o marinar na interrogação, por vezes afago-me disfarçadamente até excitar o mamilo e deixá-lo completamente aflito pela tesão que lhe dói dentro das calças. Tapa-se com os apontamentos da minha ficha. Nem desconfia que nada disso o cobre. Nem o sexo inchado nem o que diz sobre mim, sei-o.
Falemos de mim e de como está cara a vida, troquemos banalidades esquecendo que lhe pago à hora balúrdios, mas hoje dou por bem empregue o meu dinheiro, preciso deste bocado sem fronteiras onde tudo me é permitido dizer e eu decido não falar. Do que me dói, claro.

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