domingo

Estou em casa da minha Mãe. Grogue. Percebo que me deram uma dose cavalar para impedir qualquer coisa que tivesse intenção de fazer. E até tinha. Não era nenhum plano, bastava que saísse de lá e na rua nunca mais ninguém me apanhava. Afinal tanta corrida não é só bom para a celulite.
Mas não. Quando dei por mim estava dentro de um táxi com o estofo cortado e que me arranhava a curva das pernas. Não sei porque me lembro tão bem daquele golpe, mas lembro-me, gigantescamente, quase a querer engolir-me.
A minha Mãe enfiou-me na cama, um copo de leite, mais uma dose de pastilhas, bolachinhas, roupa ajeitada. Depois trouxe-me o portátil, disse para ver se os meus amigos me tinham escrito.
Que amigos, Mãe?
Os poucos que eu pensava serem mesmo de mim, de cá de dentro, onde estão?
E ele?
Que é feito dele? Apareceu um dia como uma miragem, quase um castigo a condenar-me a avivar no peito o que todos os dias penso em matar.
Só o Magalhães. Só o meu Chefe de Equipa se lembrou. O homem que eu repudiei quando disse que só quería ajudar-me.
A vida é macabra.

1 comentário:

£ou¢o Ðe £Î§ßoa disse...

Saudade, tenho saudade, dás-me saudade, não me ofereces mais nada que saudade...
Sinto saudade.
Deve ser da insónia. Maldita!!