quarta-feira

- Entre. Feche a porta, por favor. Sente-se.
Ele entrou, fechou a porta do meu gabinete com um ruído seco e sentou-se. Traçou a perna, pousou as mãos sobre as pernas apoiando os cotovelos sobre os braços da cadeira. Senti distintamente o perfume, o aftershave, ainda é cedo, daqui a nada vai cheirar à comida do café aquecida no micro-ondas onde almoça todos os dias e aquele cheiro de fritos dos croquetes e rissóis vai empapalhar-me o fato.
- Sabe porque o chamei aqui?
Vai aclarar a voz antes de me tentar responder lucidamente. Sem dar a entender que está nervoso. Depois há-de lembrar o projecto que está atrasado e que devería ter entregue a semana passada; deve achar que eu me esqueci do prazo por não lhe ter voltado a falar no assunto.
- Não é nada disso. Chamei-o aqui por uma desculpa estúpida, no fundo o que quero de si nada tem a ver com trabalho.
Ele vai calar-se e abrir os olhos. Muito. (Porque será que toda a gente abre muito os olhos quando quer entender bem o que lhe dizem? Não sería melhor que as orelhas crescessem?!)
- Chamei-o aqui porque quero comê-lo. Quero que me fornique, você dá-me um... como hei-de dizer?
E agora?
Perdeu o pio? A cor? Quase ouço a respiração dele, o cheiro do perfume e do aftershave aumentaram, ele está a transpirar, o coração disparou.
- Está a ouvir-me?
Ele ouviu mas não sabe se está acordado.
O problema é esse: porque será que quando as mulheres tomam a iniciativa destas propostas os homens ficam que nem estátuas?!

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