quinta-feira

Amarelo.
Amarelo-banana. Uma coisa desmaiada como um vómito de um bébé. Nada de surpreendente ou arrojado, tudo muito seguro, aposto que vai falar da cor como calma.
- Então? Menos perturbada agora com este creme?
(CREME?!)
- Acho-o tranquilo... calmo...
(Que previsivel!)
- Pronto! Agora já não se pode queixar da perturbação que as paredes lhe davam!
- Nunca me queixei, apesar de serem horrendas.
- Ok... Vamos começar?
Agito a perna traçada, balanço o sapato de verniz preto de salto muito fino. Gosto destes sapatos, fazem-me sentir fatal, hoje apetece-me arrasá-lo por ser tão pouco, por se achar tanto só por ter um consultório e um par de ouvidos como penicos que recolhem toda a espécie de merda que os pacientes despejam, por ter porta-retratos de familias felizes enquanto tem erecções com algumas das mulheres que aqui vêm.
- Esse amor... que partiu... Quer falar dele? Das razões que o levaram à saída da relação? Acha que há um culpado a responsabilizar?
Não consegui responder-lhe.
Um fio de sangue saíu-me do nariz e pingou, tingiu-lhe a nova alcatifa creme que mandou colocar para combinar com o amarelo-banana das paredes.

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