sexta-feira

Falemos de mim, então.
Do que forçosamente terei de falar um dia embora ache que é um desperdicio comentar o resolvido.
Falemos de mim e dele e de como tudo começou. De como nos conhecemos, embirrámos profundamente um com o outro. De como numa atitude de raiva lhe explodi na cara uma tabefe que lhe deixou as marcas e de como ele silencioso me virou e açoitou afirmando que eu era uma menina mimada que precisava de umas lições.
Falemos da minha surpresa da sua atitude e de como não tive nem tempo nem acto de reacção e me deixei dominar sem pensar em mais nada a não ser na dor fisica das palmatoadas. Naquele instante parecía que todo o mundo se constituía dessa dor, não havía raciocinio lógico, era um puro causa-efeito.
Falemos de como fiquei focada no ardor das nádegas, como o odiei e como saltei para cima dele para o atingir com tudo o que tinha no meu corpo: mãos, pés, dentes, um bicho incontido e incontrolável. Ele segurou-me os pulsos e afastou o meu corpo do dele, olhou-me profundamente.
O rabo ardía-me, muito, muito.
E desatei a chorar. Uma mulher feita a chorar como uma madalena arrependida, ranho e cuspo, convulsões do corpo.
A dor abrandou, silenciei-me. Foi aí que ele me abraçou e ficou calado a ajeitar-me o cabelo.

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