sábado

Não tenho fotografias em casa. Quero dizer, álbuns de fotografias, desses como toda a gente tem, com os instantâneos das festas de aniversário quando se é garoto, o grupo de amigos, os namorados, o pai, a mãe, toda a familia até à quinta geração. Esses álbuns existem mas estão em casa da minha mãe. Aqui só ocuparíam espaço, nunca lhes pegaría, não lhes encontro interesse algum.
Para quê perder tempo com tempo que já passou? Que não volta de nenhuma forma mesmo que se gostasse muito ou até se repetissem as mesmas coisas, os mesmo gestos?!
A minha mãe diría que é para recordar os bons momentos, os rostos daqueles que em certa altura estavam connosco num instante de felicidade.
Não consigo perceber esta teoria.
Eu lembro-me bem daqueles que passaram pela minha vida. Claro, os importantes que passaram pela minha vida. Lembro-me das suas feições, dos seus trejeitos, até me lembro do som das suas vozes e o cheiro deles. Lembro-me dos sinais nas costas da mão, da tatuagem a azul metileno que a prima maluca tinha no pescoço... Lembro-me de tanta coisa que um bocado de papel não consegue enquadrar... Que curioso, até me recordo do que foi dito no momento do disparo.
Mas acho que a minha memória é tão minuciosa porque raramente eu apareço nas fotografias. Nunca gostei de posar para elas e nem mesmo ser apanhada de surpresa. Incomodava-me. Quando era miúda pensava que ao carregarem no botão podíam fotografar-me por dentro. Ou por fora, e na revelação sería a surpresa quando me vissem vergada pelo peso do meu saco de lixo.
Ah! Pois é. Este saco vem desde sempre.
Ele sim, é um verdadeiro álbum de recordações.

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