domingo

Vi-o ontem à noite.
Continuamos a frequentar os mesmos sitios, não foi coisa do destino ou nada de romanceado, apenas gostamos e vamos, portanto havía uma forte probabilidade de nos cruzarmos.
Ele acompanhado, eu também. Aliás estava muito bem acompanhado, a mulher era lindissima mas também não passava disso que quando nos cumprimentámos e fizémos as apresentações deu logo para ver que aquele tom nasalado do "ôi!" é de uma galinha.
Anda a comê-la, nada mais. Que lhe faça bom proveito, até pode ser que se engasgue com as penas. Mas de algum modo surpreende-me: Ele nunca teve muita paciência para este tipo de fulaninhas.
Quando chegou a cara dele perto da minha senti o aftershave, a água de colónia. Mudou. Este era um cheiro mais maduro, entre madeiras e couro ou talvez especiarias. No meu tempo era mais fresco, um travo de lima. (Sempre tive um bom olfacto). Tinha o rosto quente, isso senti muito bem, e a mão direita também, pois esticou-me primeiro a mão e depois é que chegou a face à minha para me beijar.
Estava bem vestido, descontraído mas bem.
Ficámos os quatro a fazer conversa de ocasião, a dizer banalidades de copo na mão, eu com vontade de estalar os dedos e fazer desaparecer o meu acompanhante, que não parava de dizer coisas engraçadas e que fazíam a galinha rir de boquinha apertada.
Por mais que tente lembrar-me do que ele me disse não me consigo recordar.
Parece que me fizeram uma lavagem ao cérebro e me levaram aquele pedaço. Lembro-me de nos despedirmos, cada par voltou aos seus assentos, tudo muito rápido. Ou talvez não... Sinto-me confusa, não consigo medir espaços nem tempos.
De quando em vez olhei-o pelo canto do olho, parecía estar a ter uma conversa muito séria com a outra, nunca olhou para mim, ou pelo menos não cruzámos o nosso olhar. Nem falámos com os olhos, nem emanámos mensagens do género tenho saudades, lembras-te de nós, ainda penso em ti, não, nada disso.
E de repente, quando dei conta só encontrei os lugares vazios, saíram e eu nem me apercebi.
A culpa foi do gralha que não se calou a noite inteira. Como fala este homem! Nem metade ouvi da conversa chata que teve!
Ainda bem que tinha levado o meu carro. Assim cada um seguiu o seu caminho e no trajecto tive tempo de pensar que o tinha reencontrado.
Ao fim de um ano e cinco meses.

Sem comentários: