sábado

- Mãe, porque é que o pai se foi embora?
- Embora? Estás doida rapariga? O teu pai morreu.
- Não falo desse. Falo do que me fez.
- Donde vieram essas ideias agora?
- Porque é que ele se foi embora?
- Isso já foi há muito tempo. Deixa lá estar.
- Porque é que nunca me falaste dele?
- Tu nem o conheceste! Para quê essas perguntas todas?
- Porque quero saber.
- Mas porquê agora?
- Porque sim!
- Já não me lembro, isso foi há muito tempo.
- Não acredito que não te lembres!
- É verdade! Não me lembro mesmo!
- Eu estou aqui. Como é que dizes que já não te lembras?
- Que insistência! Não quero falar disso!
- Mas eu quero! Eu preciso de saber!
- Mas para quê? Nunca perguntaste nada, nunca quiseste saber, agora vens com essa novidade!
- É importante para mim. Saber como ele era.
- Já não me recordo, verdade mesmo. Passou muito tempo...
- Porque se foi embora mãe?
- Não sei... Vamos mudar de assunto.
- Porque não me queres responder?
- Mas que coisa!
- Responde e eu não volto a falar!
- Foi-se embora porque teve medo.
- Medo? Medo como?
- Medo de te amar.
- Não percebo...
- Também não te sei explicar.
- Tenta. Como é que ele era?
- Não sei, acho que pensei que sabía mas na verdade nunca soube como ele era.
- Medo de me amar... Ele não te amava?
- Isto é uma conversa sem pés nem cabeça!
- Responde!
- Amava sim e muito. Eu pelo menos achei que sim, mas quando se foi embora provou o contrário, estive sempre enganada...
- Como é que ele tinha medo de amar?
- Sei lá! Tinha medo de se dar, de confiar! Não sei!
- Tens de me explicar!
- Olha, tu és como ele! Chega? Tem de chegar! Não quero mais falar sobre isto! Não me aborreças!

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