domingo

Hoje deixaram-me tomar banho sózinha se bem que o monstro ficou a assistir. Deve-lhe ter dado um gozo enorme. Vesti a minha roupa, deve ter sido a minha Mãe que a trouxe, mas nada disto combina.
Levaram-me a um gabinete onde estava uma fulana com cara de rato de biblioteca, um fatinho horrível, daqueles que são feitos em série.
Uma dra. qualquer coisa que não fixei o nome. Reparei que as paredes e a alcatifa são do mesmo género dos do consultório do pateta.
A mulher falou, falou, mas a partir de uma certa altura deixei de a ouvir. Retive algumas palavras: comoção, shock traumático emocional, falta de estima, fuga à realidade, incapacidade temporária para discernir o real do medo construído, blá, blá, blá.
Que estou melhor, embora mantenha a necessidade de vigilância médica.
Se estou melhor posso ir-me embora?
Ainda não, mais uns dias para ajuste da medicação. E trabalhar por agora, também não, a seu tempo, tenho muito tempo.
Quem é que esta gaja pensa que é?
Deve pensar que eu também sou uma assalariada e que vivo daquilo que o patrão me dá quer trabalhe ou não!
Deixa. Deixa-a pensar que manda. Eu já lhe digo.

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