domingo

Hoje a minha Mãe veio com ele. Há tanto tempo que não o vía. Continua belo, belo, belo.
A minha Mãe saíu e ele sentou-se na beirinha da cama, ajeitou-me o cabelo na testa, atrás da orelha, aquele gesto tão dele. Depois segurou-me na mão e passou-ma na barba rente por fazer. Repetiu este gesto muitas vezes, tantas que comecei a sentir as costas da mão a ficarem dormentes. Olhou para mim e começou a chorar. A chorar sem parar, muito, sem som, só as lágrimas a saírem como se tivesse aberto uma torneira e não conseguisse parar aquela água toda.
Puxei-o para mim, a cabeça sobre o meu peito, molhou-me a camisa de noite, a mão, a dobra do lençol, não paráva de chorar, não falava nem fazía ruído algum, só chorava e chorava sempre.
Deu-me um beijo na testa e eu roubei-lhe um dos lábios. Tinha a boca salgada.
Pedi-lhe para voltar amanhã.
Ele limpou os olhos vermelhos ao punho da camisa, fungou e foi-se embora.

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