terça-feira

Dormi aos bocados, dói-me a cabeça, parece que tudo ecoa e ressoa dentro de mim. Não tomei mais nenhum comprimido, meti-os dentro dos chinelos de quarto e quando fui à casa de banho aproveitei para fazer o despejo pelo ralo do lavatório.
A minha Mãe continua no seu processo de vigilante, espreita para dentro do quarto, ouço-lhe os bicos dos pés à coca de me ver a fazer qualquer coisa desprevenida, de quando em vez senta-se na beira da cama e deita o rabinho do olho para o que tenho no portátil, faço questão de lhe mostrar o mahjong já com algumas pedras emparceiradas.
Depois regressa aos seus eternos afazeres, não sei bem quais, mas sei que não pára todo o dia, barulho de tachos, aspirador, gavetas a abrir e fechar, um inferno. Não entendo como alguém pode gostar desta vidinha de doméstica. De vez em quando troca algumas palavras com a vizinha, seja quando estende a roupa ou quando a outra vem pôr-se à porta a falar de mim.
Uma gosmas aquela vizinha! Tem uns pêlos encaracolados no queixo que só de os ver me irrita.
E é esta a minha vida agora.
Amarrada a uma cama a ouvir sons de mulheres que não sabem que são mulheres.

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