sexta-feira

Falemos de mim então.
De como tenho deixado a vida passar por baixo do meu nariz, eu a cheirá-la como se faz a um queijo que fede mas que é delicioso na boca.
Falemos de mim e como este idiota que me continua a sugar o dinheiro permanece nesta inactividade de apontar coisas sem nexo que propositadamente lhe passo para o enredar ainda mais no que ele já pode considerar de case study.
Falemos de mim enquanto lhe noto os olhos à socapa por cima dos óculos de metal demasiado grandes para a cara de fuínha a estudar-me, a avaliar da minha condição fisica, do meu decote na blusa negligée ao exibir um pouco além de pele, de como permanece naquela posição de lábio inferior sem qualquer determinação, mole, quase pendurado mostrando um bocado dos dentes. Deve ser péssimo a fazer sexo oral.
Tudo continua mais amarelento do que nunca.
Ouço-lhe a voz distante, penso no Magalhães que me aguarda lá fora. No que farei assim que saír deste sofá que o idiota virá cheirar e roçar-se aproveitando o quente do meu rabo e das minhas costas no intervalo entre pacientes.
Na liberdade que hoje recupero.
Ou morro.
Para casa da minha Mãe não volto.

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