segunda-feira

Falemos de mim. Falemos o quanto é preciso falar de mim. Eu de mim. Sem me ralar com notas, ressalvas à margem, olhares indiscretos e masturbações mentais.
Talvez devesse começar por falar dele.
Não foi ele que me trouxe até esta sala amarela que por força o analista fala em creme. Daltonismo. Das idéias, sobretudo. Afinal, para se ter um canudo nem sequer é preciso ser inteligente, e este é um dos melhores exemplares dessa regra de excepções.
Eu sou a excepção da excepção.
Sabía no meu intimo que um dia a corda se partía mas sempre fui esticando mais um bocadinho, enchendo o meu saco do lixo à medida do amor que lhe tomei.
Eu também me assustei. Nunca quis amar. Achava isso apanágio de pessoas fracas e sem controle na sua vida. Nunca quis nem quero perder as rédeas da minha. Mas parece que de tanto as evitar acabei enredada e com nós, presa por um pé e de arrasto pela vida fora.
Não estava preparada para sentir amor. E ele não estava preparado para que a entrega tivesse condicionantes.
Não o amo. Não o amo mais.
Senti isso ontem, quando senti frio depois do jacto de água gelada que o Magalhães me obrigou a suportar dentro da cabine do duche. Senti que com a água se ía o amor. Se ía ele. Ou já tinha ido quando ele me deixou. Só não sabía.
Hoje a lucidez depois do alcool.
O alcool do amor, é bonito de se dizer.
Falemos de mim, então.
Do que fui. Do que perdi. Do que estou prestes a ganhar.
Não, não vou dizer o que é.

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