sexta-feira

O Magalhães apareceu, na condição de motorista, não me dão as chaves do meu carro e logo não sou senhora das minhas acções.
Hoje foi dia de saír, ir ao pateta alegre que pensa que me conhece.
Senti-me um pouco diminuída, sem maquilhagem, o cabelo amarrado num rabo de cavalo, as mãos que não param de tremer e sobretudo sem vontade alguma de estar presente adiante este estafermo que hoje pareceu rir-se desmesuradamente da minha figura.
Pensei que vindo, saíndo, talvez houvesse hipótese de me escapar a esta vigilância absurda que me fazem, mas não, não tive um segundo sem que a minha Mãe e o Magalhães como dois cães de fila me dessem uma folga que fosse, e cansada (sinto-me permanentemente cansada) também me faltaram o arrojo e as pernas.
Este amarelo-merda continua a escorrer pelas paredes. A dar-me vontade de lhe vomitar por cima dos joelhos, na alcatifa de má qualidade cheia de electricidade.
A conversa do costume, no plural, o nosso aspecto, como nos sentimos, o que queremos fazer, se temos dormido sem sobressaltos, se temos zumbidos, se temos muita sede, se temos vontade de fazer alguma coisa em especial.
Temos. Mas não dizemos. Só sorrimos. Talvez assim, sejamos tolinhos o suficiente para nos convencermos que estamos bem, benzinho mesmo, sem necessidade de mais drogas pela goela abaixo e nos deixem ir à nossa vida que se faz tarde.

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