domingo

- Suba, a porta está aberta cá em cima. Depois feche-a, estou na sala.
(O Magalhães hoje aqui? Não me disse que vinha... se pensa que vai tentar persuadir-me de regressar ao escritório pode dar meia-volta que perde tempo e cuspo. Amanhã é o grande dia.)
- Bom dia!
- Bom dia Magalhães. A que se deve a honra deste inesperado?
- Pensei em fazer-lhe uma surpresa!
- Mau! Sabe o que penso de surpresas.
- Mas esta é uma boa surpresa, garanto-lhe!
- Desembuche.
- Vim fazer-lhe o almoço!
- O quê?
- O almoço! Que me diz de uma bela lagosta?
- Você está doido! Não tenho fome.
- Mas tem que comer! Está magérrima! Precisa de forças para voltar ao escritório!
- Não vai começar com a conversa de eu adiar o meu regresso, pois não?!
- Não, apenas lhe quero oferecer o almoço e como sei que não gosta dos Domingos...
- Quem lhe disse que não gosto dos Domingos?
- Sei lá, talvez você... que interessa? Bom, vamos para a cozinha!
- Nem pensar! Vá você!
- Mas preciso que me diga onde estão as coisas!
- Não faço a minima!
- Como?
- Não sei, não sei, quem sabe dessas coisas é a empregada!
- Bom... já vi que tenho que me virar sózinho.
- Não era melhor deixar-se disso? Telefona-se e vêm cá a casa trazer qualquer coisa...
- De maneira alguma! E a lagosta? Já viu a lagosta? Fresquissima!
- Não vi nem quero ver. Aliás, não percebo nada disso...
- Então, deixe-se estar. Eu já cá venho trazer-lhe uma água tónica com limão.
- Que coisa desenxabida...
- Não pode beber alcool! Com os comprimidos não pode beber alcool.
(Pois... o que tu não sabes é que eu deixei de tomar os comprimidos. Nunca mais, nunca mais)
- Edna! Você não me diga...
- O quê?
- Você parou a medicação?
( Sou maior e vacinada, não preciso de mentir.)
- Não pode fazer isso! Mesmo que diminuísse há um tempo de desmame! Por isso as mãos não param de lhe tremer! Inconsciente! Você é uma criança!
- Ah! Páre lá com o sermão! Era só o que me faltava!
- Sabe uma coisa? Apetece-me dar-lhe umas boas palmadas! Como se faz a uma criança desobediente! Desobediente e mal educada!
- Experimente...
- Não me tente!
- Está na minha casa!
- Pois não será isso que evitará eu dar-lhe um correctivo!
- Ponha-se na rua! Ninguém o chamou aqui! Rua! RUA! Você e a sua lagosta!
- Eu vou! Aliás nem devía ter vindo! Mal-agradecida! Mas a lagosta fica!
(Não sei explicar porquê... mas está a dar-me uma enorme vontade de rir...)
(E a ele também!)

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