domingo

Devo ter um trauma infantil qualquer que recalquei tão fundo que não encontro um fiapo de memória que seja, mas não consigo ver ninguém a chorar. Fico perturbada, afasto a vista do rosto de quem chora, perco as palavras, não sei como consolar.
E se forem homens a questão torna-se muito mais grave. Ainda bem que vi poucos a verterem lágrimas mas esses poucos valeram por todas as mulheres. Eles são tão mais fidedignos, é quase um sangue cristalino que brota de uma imensa dor.
Mas também conheço mulheres assim: a minha mãe. Raro ela chorar. Fá-lo por dentro, escorre para dentro, não há fio de água, há um brilho mais intenso como se fosse uma estrela nos olhos que in extremis explodisse em luz por saber que se extingue no momento a seguir.
Deve ser por isso que eu poucas vezes choro. Saio a ela.
Já nem me lembro quando isso aconteceu mas acho que a última vez eu ainda estava na puberdade e tinhas as hormonas todas aos pulos, descontroladas.
Agora controlo-me e até evito, mordo a lingua se for preciso para não dar parte fraca.
E não borrar a pintura.

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